domingo, 31 de julho de 2011

Vida eterna


Pr’á vida não ter fronteiras
Deves procurar a tua sorte
Pois mesmo que não queiras
Tens a fronteira da morte

Faz da vida a vida eterna
Qu’a morte não te encontrará
Se viveres de forma tão plena
Sopro de vida te embalará

Em morte embalado pl’a vida
Nunca mais serás esquecido
Linha de fronteira desvanecerá

Pois com a alma assim repartida
Mesmo depois de teres morrido
Sempre alguém te lembrará.

sábado, 30 de julho de 2011

Tendinite


A culpa é da ganância
A culpa é do dinheiro
Fazem gerar uma ânsia
De ser sempre primeiro

Primeiro nas aparências
Primeiro no grande luxo
As minhas condolências
Ética morreu que diacho

Para o homem que futuro
É deixar de ser humano
A culpa é de Wall Street

Vejo aqui um mau auguro
A não ser que para o ano
Bolsa tenha uma tendinite.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Mimos ao poder


Cultura não é ministério
E nem nunca poderia ser
Cultura é um assunto sério
Não entra em jogos de poder

Ministério é o da agricultura
Aí sim já podemos concordar
Que para uma boa legislatura
Muitos nabos há que plantar

Se a cultura chegasse ao cimo
Seria outra a forma de governar
Agricultura seria despromovida

Pr’a ministro teríamos um mimo
Um dia havemos de lá chegar
Já os nabos far-se-iam à vida.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Alucinação


Não há respostas ao retardador
Na actual sociedade chiclete
Mastiga até perder o sabor
A seguir deita fora na retrete

Esta é uma sociedade sem dor
Moda Primavera/Verão promete
Estação com muito esplendor
Depois deita fora, não faças frete

É uma sociedade a todo o vapor
Em que dás um passo em frente
Mesmo estando à beira do abismo

Lá em baixo sente tudo ao redor
E se sentires um cheiro diferente
Não esqueças, puxa o autoclismo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Lança-chamas


Todos os gritos são nossos gritos
Mas é mais fácil não o reconhecer
Enquanto são os outros os aflitos
E quando formos nós a perecer?

Não haverá ninguém pr’a acudir
No momento dessa nossa aflição
Porque já ninguém estará a ouvir
Que nos restará como solução?

Enquanto tempo ainda nos resta
Demonstremos a nossa indignação
Enchamos bem os peitos de ar

Vamos mostrar a quem não presta
Como é um mundo em combustão
Com o lança-chamas vamos gritar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A besta


Entre o bicho e o homem
Vai uma distância enorme
Os bichos matam e comem
Homem mata sem ter fome

Homem mata só por prazer
Até mesmo o seu semelhante
E grita na hora do ver morrer
Esta é uma vitória retumbante

Este homem é mais que bicho
Mata, destrói e canta vitória
É uma aberração da natureza

Filho de Deus, satanás ou lixo?
Muitos houve ao longo da história
Encarnações da besta com certeza.

domingo, 24 de julho de 2011

Juros d'arrasar


De Portugal são amigos
Vêm mais 3 mil milhões
Vamo-nos a eles galifões
Eu cá chamo-lhes figos

A dente de cavalo dado
Não se olha certamente
Nem se fica indiferente
Pior é se é emprestado

Com tanta falta de pilim
E os juros que irão cobrar
Eu nunca vi nada assim

Este país ir-se-á afundar
Será enorme o frenesim
Quando fôr dia de pagar.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Falso alívio


É dia de grande euforia
Nessa Europa um fartote
Estão a aliviar o garrote
Mas prolongam a agonia

É que ao alargar o prazo
E do juro haver diminuição
Estão a aliviar a pressão
E pr’a esbanjar darão azo

Já consigo ler o pensar
De quem está a governar
“Tempestade está a amainar

Tempo de bonança a chegar
Prenúncio pr’a voltar a gastar”
Raciocínio que nos vai afundar.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Godnomics


Esta depressão que nos anima
Nestes tempos tão materialistas
Os seres humanos dão nas vistas
E diferença pr’o robot é mínima

É certo que um robot deprimido
Não se anima como o ser humano
Ele permanece triste e inumano
Mesmo que tome o comprimido

Ao humano basta a pastilha tomar
Para que o caso mude de figura
Como resultado da transformação

Em absoluto passa a acreditar
No Deus da economia que perdura
Ele que indicará a via da redenção.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O colosso


Que o colosso era maior
Eu já tinha desconfiado
A sina do povo sofredor
É nascer pr’a ser enganado

E a reboque do colosso
Chupam-nos até ao tutano
Ficamos só com o osso
Dizem que é só este ano

Tirando este foram todos
Pr’aí dos últimos trinta e tal
Serão os próximos quarenta

Alguns com dinheiro a rodos
Outros com a dívida colossal
E o colosso quem alimenta?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O faraó


Vamos todos ao festival
Com o espírito de outrora
Que ninguém venha embora
Sem uma solução radical

Que a ditadura económica
Está a fazer-nos passar mal
Que então nasça nesse local
Uma solução faraónica

Na pirâmide que aí nascer
Façam sepultar o capital…
Parem já, não pode ser

Como iremos sobreviver
Sem ir ao centro comercial
Após o dinheiro morrer?

domingo, 17 de julho de 2011

Que stress


Os festivais de Verão
Esgotaram a lotação
Por causa da crise, não?
Sim, é pr’abanar o melão

Que o melão abanado
Acaba menos fatigado
Não são festivais de fado
São de rock bem pesado

Que o pessoal enrascado
Curte lá um bom bocado
Esquece o ano stressante

Daquela busca incessante
Pelo job bem remunerado
Onde se trabalhe sentado.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ergue-te Zé


Ai coitadinho do Zé Povinho
Jaz quase morto, esticadinho
Nas vielas dum triste caminho
Ergue-te Zé, não sejas tolinho

Anda aqui beber um copinho
Este brota directo do jarrinho
Vai do branco ou do tintinho?
Qualquer um te faz rosadinho

Quanto estiveres bem regadinho
Faz-lhes aquele gesto perfeitinho
Irão perceber num instantinho

Que o nosso manguito é potente
Pensarão duas vezes certamente
Antes que se metam com a gente.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Feijão com couves


Ministro das finanças explica
Mas a gente é que não entende
Castigo que sobre nós pende
Pensarão que a malta é rica?

Eu cá nunca andei a roubar
Estou-me a sentir assaltado
Pela voracidade deste estado
Não poderão também poupar?

Tenho uma receita simples
Podes aplicá-la, não me ouves?
Se não há para bife da vazia

Cortem nos vossos requintes
E comam feijão com couves
A ver se a carga fiscal alivia.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Festival Sagres


Gregos expurgam a crise
Com saxofone e Neruda
Então alguém que analise
Para concluir se isso ajuda

Se o resultado fôr positivo
Aplicá-lo-emos em Portugal
Declama-se poeta no activo
E faz-se um grande festival

Que animará a economia
E para melhorar o resultado
Sem ser à custa de milagres

Divulga-se na rádio telefonia
Este grande evento planeado
Com o patrocínio da Sagres.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O remador


Nosso barco anda à deriva
Muito estranho está o mar
Das vagas não há esquiva
Só vejo um otário a remar

Rema com toda a energia
Mas retiram-lhe o sustento
Há muito tempo não se via
Remar só com este alimento

Tanto remar deixou exausto
Este nosso remador solitário
Não rema, ficou esclerosado

Para mantermos nosso fausto
Quem contribuirá pr’o erário?
Outro remador seja encontrado.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Milagres pedidos


Berlusconi meu querido
Não esteja preocupado,
-Eu a isso não sou dado
Vou ali fazer um pedido

À senhora de Caravaggio 
Ela atende-me muito bem
Ao senhor Scolari também
Assim evita-se o contágio

Ela vai acalmar o mercado
Uma vela lhe vou acender
O meu charme é um elixir

E se vir este pedido gorado
Então as coisas vão aquecer
O padrinho terá qu’intervir.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Lixo


O nosso país já estava lixado
Mesmo antes de ir pr’o lixo
Agora com este valor afixado
É oficial, foi por água abaixo

Há muitas vozes indignadas
Com esta nossa triste situação
Se em trabalho transformadas
Algumas soluções aparecerão

Uma delas será a reciclagem
Valoriza resíduos produzidos
Limpando o lixo desta nação

Eu sei, é preciso muita coragem
Para abafar todos estes ruídos
E passar da conversa à acção.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sete anos de azar


Verdade de Passos Coelho
Mentira de Sócrates iguala
Tudo se baseia no espelho
Que a todos nós apunhala

Os que se propõem governar
Ao mirar prometem o mundo
Mas depois do voto apanhar
Cavam o buraco mais fundo

Vamos o espelho quebrar
Teremos azar por sete anos
Mas quando o azar terminar

Terminarão nossos enganos
Quem vier a seguir e olhar
Verá já não somos soberanos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Eurito


Nós podemos sair do euro
A seguir criamos o eurito
Uma moeda do pobrezito
Alguém aqui é esquisito?

Então vamos lá concretizar
Esta ideia única e sem par
Que eu já ouvi pr’aí falar
Qu’esta Europa vai acabar

Com os euritos na algibeira
Queira o pobre ou não queira
Havemos de arranjar maneira

De lhe dar a justa valorização
Trabalharemos até mais não
E só consumimos cá da nação.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Digestão difícil


Gasóleo desce pr’á semana
O peso na consciência não
Mas que situação desumana
Sobe o preço do leite e pão

Neste sobe e desce infernal
Poupa cêntimo quem passeia
Já para a alimentação matinal
Rouba-se um pouco da ceia

Estômago entrou em recessão
Mas compreende a austeridade
Agência de rating é impiedosa

E baixou o rating da digestão
Que pr’a cumprir a actividade
Se faz de forma mais vagarosa.

sábado, 2 de julho de 2011

Submarino e meio


Vamos pagar submarino e meio
Com o nosso subsídio de Natal
Santa Claus não nos leves a mal
Temos que pagar este devaneio

Peço-te que não fiques figadal
Com nossos pedidos deste ano
Um brinquedo chinês pr’o mano
Uma vela pr’o resto do pessoal

Nesta quadra vamos acendê-la
Pedir um desejo com retroactivos
Para que o esforço seja retribuído

E antes que se apague esta vela
Leva os gastadores compulsivos
Faz com que o pilim seja restituído.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Um certo país


Além do papel olhar
Ou até do formulário
Custa a muito otário
Impresso vem a calhar

Preenche tudo certinho
Olha a vírgula e o ponto
Por favor não sejas tonto
Deixa aí um dinheirinho

Prometemos a apreciação
Do teu caso sim senhor
E se por acaso és doutor

Num mês terás a decisão
Mas se fores um pé rapado
Então podes esperar sentado.