segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Serenidade


Este povo é sereno
No eterno carnaval
País é bem pequeno
Ninguém leva a mal

Há cocktails pelo ar
São os de mau cheiro
Não são de rebentar
Só assobiar o primeiro

Ministro de coragem
Enfrentou a criadagem
Deu seu peito às balas

Subiu logo na sondagem
Assim não fará as malas
Presidente não te ralas?

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Politica(mente)


Ao pó e ao nada reduzidos
Final desta peça ilusória
Em que somos seduzidos
Numa repetição sem glória

Muda cenário e vestimenta
A peça até parece diferente
Mas mais uma vez se aguenta
Com peça igual e deprimente

Palavra é intenção simulada
Dita por novo actor consagrado
No mesmo palco representada

Pouco ou nada ovacionado
P’la multidão sempre lesada
Política é este jogo jogado.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Caravelas de esperança


D. Fernando II e Glória
De um povo marinheiro
Escreveu linhas d’história
Por esse mundo inteiro

E mais linhas escreverá
Não nesta mas noutras eras
Que esta é demasiado má
Tempo de fúrias e feras

Tempo este sem lucidez
Ao novo tempo faz apelo
Nas caravelas de esperança

De novo este povo português
Se lançará ao mar tão belo
Contra tempestade ou bonança.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cigarras de Portugal


De errado em Portugal
Só vejo os portugueses
Que sabem gerir-se mal
E a culpa é dos chineses

Chegaram os milhões
D’Europa muito amiga
Não entro em discussões
Mas foi encher a barriga

Recebemos agora a factura
Não se investiu na produção
Fomos cigarra, bela cantiga

Folia é boa enquanto dura
E agora que mudam a canção
Vejo cigarras e nenhuma formiga.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Bulimia


A Grécia não é a Grécia
Portugal não é Portugal
Depois de tanta peripécia
Todos somos um carnaval

Os políticos são os reis
Gozam o imenso festival
E vós povo o que sereis
Neste grande desfile fatal

Somos pais da democracia
E reis da ingovernabilidade
Contribuímos para o repasto

Desta gula que é bulimia
Onde comem até à saciedade
Para vomitar de imediato.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Cidadão não


Está caduco estado social
Caducou no mês passado
Passaram licença especial
Até à renovação do estado

Mas parece impossível
Um estado de renovação
Vejo um estado sofrível
Não sinto qualquer aptidão

Para uma política social
Já não conta o cidadão
Só já conta o contribuinte

Este cidadão está a passar mal
Proponho a sua revogação
Que venha o cidadão seguinte.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Nascer ao sol


Nascer em Portugal
Antes valia não fosse
Uns com febre andam mal
E outros cheios de tosse

Com catarro e rouquidão
Muitos também há por aí
Outros mal do coração
E com caspa também vi

Há as taxas moderadoras
Do sistema hospitalar
Para moderar as entradas

Não vi taxas franqueadoras
Para o acesso franquear
Mas vi sol nas esplanadas.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Nação valente


Um dia a troika disse mata
Governo acrescentou esfola
Depois da alta negociata
Acabámos a pedir esmola

Língua de palmo p’ra pagar
O resultado da gestão danosa
Com que quiseram brindar
Nação forte, alma vigorosa

Não se vai deixar assustar
Mesmo depois de esfolada
Continuará a caminhar

Como exemplo apontada
Muitos nos virão estudar
Pela valentia demonstrada.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Guerra económica


Não é necessário destruir
O mundo, apenas metade
Pois é preciso reconstruir
Nova e distinta realidade

Destruição está em marcha
Económica guerra mundial
Não pára, ou vai ou racha
Que nova realidade afinal?

Retrocesso atroz é imposto
P’los famigerados mercados
E enquanto o planeta rodar

Não há inteligência ou rosto
Que encaminhe os deserdados
Só o lucro nos pode comandar.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cálice de ouro


Quando tiverem dentes
E puserem ovos de lata
Então estaremos contentes
A galinha já não se mata

Então será muito a sério
Riqueza ter-se-á acabado
Mesmo a do quinto império
Tanto mundo desolado

Não mais cálices de ouro
Cruzarão lábios sedentos
Não mais lugar a lamentos

Haverá um novo tesouro
No mundo em construção
Após a sua destruição.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A sentença


Eu não entrego os louros
Os louros são-nos roubados
Pelos ladrões de tesouros
De governantes disfarçados

Entregam o oiro ao bandido
A seguir vão-se endividar
P’ra nós piegas, o gemido
Somos carne para exportar

País não precisa de auxílio
Precisa vergonha e bom senso
Enviar alguns para o exílio

Da nossa maior indiferença
Encetar um processo intenso
Haja quem leia a sentença.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Passado do futuro


Futuro ao virar da esquina
Deste portugal de bananas
Democracia é pequenina
E mal gerida por sacanas

Democracia é a substituição
D’alguns corruptos apenas
Por incompetentes em aluvião
Que se pavoneiam às centenas

Acreditem não sou eu que digo
D.Carlos, Bernard Shaw e Eça
Relataram este filme no passado

E não parece filme tão antigo
Até me parece actual esta peça
Onde figurante povo é sacrificado.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Folk the Banks


Just Folk the Banks
Nasceu um dia na City
E contagiou os Yankyees
Que ocuparam Wall Street

Antes do lucro a humanidade
After that save the Queen
Gritou-se lá nessa cidade
Um pouco de dignidade sim

O contágio é progressivo
No mundo em transformação
Nesse dia eram centenas

Sem um cariz agressivo
Hoje em dia quantos são?
Talvez uns milhares apenas.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A capoeira


A vida não vão levá-la
Porque nos querem a ganir
À galinha vão depená-la
Nós ficamos p’ra contribuir

Pois que sem contribuição
Vão andar todos ao estalo
De pintos não passarão
Esses que cantam de galo

Não há rei na capoeira
Do nosso descontentamento
Poucos ficam com o tesouro

P’ra muitos sobra a poeira
São os que por um momento
Põem os ovos de ouro.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Austeridades carnavalescas


Acabou-se o carnaval
E eu até não acho mal
Não havia pão afinal
E tu como um mortal

Austeridade espiritual
Praticavas como ritual
Agora é comportamental
E a seguir conventual

Abrigas-te no convento
Sob a forma de oração
Dás voz ao teu lamento

O espírito não quer pão
Fica barato o sustento
Mais caro é ser folião.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Espelho da morte


Vida é o espelho da morte
Podes olhar-te e reflectir
Terás em vida melhor sorte
Ou tê-la-ás depois de partir?

Se em primeira classe viajas
Levas ouro, prata e brilhantes
Não importa como em vida ajas
Terás um lugar entre gigantes

Se foste um pobre coitado
Da classe dos indigentes
Atrás do prejuízo deves correr

Se foste um remediado
Então as coisas são diferentes
Tens de pagar antes de morrer.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O exemplo


O exemplo donde parte
Vem de cima ou de baixo
Em cima está quem reparte
E onde fica logo o tacho

E é aqui que está a arte
De repartir que é antiga
Quem o faz não se farte
Encha dez vezes a barriga

Em baixo é dar o exemplo
De trabalhar para comer
E o tacho chega rapado

Eu cá de baixo contemplo
Mas não chego a perceber
Lá de cima o exemplo dado.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Bloody mary


A resposta adequada
Não são greves nem nada
Não virá de madrugada
Nem chegará disfarçada

Ela já está em marcha
P’ra fogueira não é acha
Nem sequer é vai ou racha
Não há manif nem faixa

Ela está a ser plantada
Em breve vai desabrochar
Queira ou não o poder

Não será uma intifada
Nem será para assustar
Como será não vou dizer.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Memorial além troika


Austeridade além troika
É um desígnio nacional
Torna forte nação heróica
De seu nome Portugal

Os oito séculos d’história
Foram engolidos afinal
De tal feito não há memória
Erga-se então um memorial

Na base e como suporte
Um povo sempre esquecido
Apoiado numa justiça forte

Governo da maior confiança
Navegadores que temos sido
Naveguemos na alta finança.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sociedade call center


Na sociedade formatada
O call center já te atende
Reclamação foi registada
Resolução essa depende

Vamos consultar manuais
Ligação está impedida
Já há indícios formais
Afinal tem direito à vida

A uma vida em sociedade
Doze andares acima do chão
Onde não conhece o vizinho

No centro da grande cidade
Call center emite a conclusão
Tem direito a morrer sozinho.