terça-feira, 4 de outubro de 2011

Discursos


Está demais a realeza
Com seus trajes de cetim
Nestes tempos de pobreza
Mas a realeza traja assim

Faustoso banquete consome
De iguarias sem igual
Nestes tempos de fome
Mas a realeza não come mal

Portugueses não desistam
No Estoril-Sol discursa o rei
Em breve falarei ao povo

Peço a todos que resistam
Não digam que não avisei
No dia cinco avisarei de novo.

3 comentários:

Maria João Brito de Sousa disse...

O poeta, com seus versos,
Tem poderes que desconhece
E, nos tempos mais adversos,
Só fala do que acontece...

Sobre o que há-de acontecer,
Poderá teorizar
E se luta é por saber
Que não pode adivinhar...

Quando a música é passada
E a palavra, já escoada,
Faz lembrar que se excedeu

Fica a história consumada
E a semente foi lançada
Nesse chão que Deus lhe deu!

Abraço grande, Poeta!

Maria João Brito de Sousa disse...

Muito obrigada pelo envio do seu precioso soneto, meu amigo Eduardo. Quem sou eu para fazer uma análise de um soneto, ainda por cima com uma temática tão romântica e que permite tantos, tantos tipos de leitura? Não me parece um soneto funesto e sim um que aposta na metáfora erótica, desde o início até à última palavra. Sei que pode ser uma leitura muito minha e não encontrar facilmente quem lhe dê uma interpretação similar, mas foi assim que li o seu soneto.
É-me facílimo imaginar este poema cantado por jovens estudantes a jovens meninas, estudantes ou não. Peço desculpa se a minha análise lhe parecer completamente fora do que esperava...
Continuo decidida a enviar-lhe o soneto do meu avô.
Um abraço para si e esposa.

Maria João

Maria João Brito de Sousa disse...

Aqui vai o soneto prometido, amigo Eduardo!

BELEZA FRIA...

Deus fez dos teus cabelos os trigais;
Dos teus olhos azuis a luz do dia;
Do teu riso bendito essa alegria
Que as aves andam a cantar, joviais...

Da tua dôr, a dôr que os pinheirais
Gemem à tarde, sob a aragem fria
E do teu pranto essa malancolia
Que tem a onda a suspirar aos ais

E dos teus seios virgens, fez as fontes
Onde bebem a graça e a beleza
As pastoras gentis que andam nos montes

E do teu peito frio, o duro gelo
Desolador, mais triste que a tristeza:
- O sol do Amôr não poude derretel-o!

Lisbôa, Março de 1916

António de Sousa

PS - Mantive a grafia original do manuscrito, um caderninho de rascunhos do jovem poeta.